Meu pai é o meu super-herói

Quem de nós em uma das fases de nossa vida nunca disse que nosso (super) herói é o BatmanSuperman ou a Mônica e o seu coelhinho azul. E se fosse citar todos os personagens MarvelDc Comics, Disney e Maurício de Sousa, a lista seria grande. 
Se procurar nas minhas reminiscências, acharei lá muitos desses personagens, contudo o meu super-herói estará envolto em nuvens trigais, amassando o pão para alimento do corpo. E com o ganho do seu suor, pôde dar o alimento para a alma. Mesmo não sendo um leitor contumaz, pôs ao meu alcance todo tipo de leitura, desde livro de bolso de bang bang, história em quadrinhos até a mais nova edição da enciclopédia Barsa 
Sem capa e espada, sem inimigos para derrotar, ele fez do nosso lar uma pequena república de estudantes para parentes seu fazerem moradia para dar continuidade aos estudos.  
Tenho muitas histórias dele que o enalteceria como um ser humano que sempre se preocupou com o próximo. Mas foi uma história recente que ouvi sobre ele e que não conhecia que me fez pô-lo definitivamente no patamar dos super-heróis. Cito-a 
Barqueiro na região do Rio São Francisco, meu pai transportava em sua barca todo tipo de mercadoria. Numa dessas viagens, sua barca tombou e ele perdeu toda a sua mercadoria, contudo salvou a sua embarcação. Barca avariada, e sem condições de consertá-la, meu pai pediu ajuda financeira ao seu amigo Canduca. Este imediatamente pagou todos os custos do conserto. Emocionado, meu pai prometeu que assim que se estabelecesse pagaria a sua dívida, só não a faria imediatamente porque sua esposa, minha mãe, estava grávida.  
Para encurtar a história, meu pai trabalhou duro para se levantar. A minha mãe deu à luz ao seu primeiro filho, eu, e ele só o veria depois de meses. 
Ao amigo ele pagou a dívida e deu seu primeiro filho para batizar. O tempo passou, meu pai montou uma padaria que era referência na Barra, cidade que nasci. A primeira a se industrializar com equipamentos modernos. Estabilizados financeiramente, meu pai soube que o meu padrinho Canduca, vivendo em outra cidade, estava passando necessidades. Prontamente ele o ajudou. 
Hoje, aos 102 anos, lúcido, o meu padrinho não cansa de repetir essa história e a finaliza assim: o que o Edson - meu pai - fez por mim foi mais valoroso do que eu fiz por ele. 
Emocionado, olhos umedecidos, ele silencia e olhando para o céu retira o seu chapéu, fazendo um gesto de reverência. 
 Meu pai desencarnou aos 81 anos.

Texto de Eder Ribeiro.

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